Segurança Digital

Barrett Brown envia carta da prisão

“O Congresso não fará nenhuma lei que cerceie a liberdade de palavra, de imprensa ou o direito do povo de se reunir pacificamente e de dirigir petições ao governo para reparação de injustiças.”
Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos

Em meados de setembro, o jornalista e ativista americano Barrett Brown foi detido em sua casa no Condado de Dallas. A cena dramática da prisão foi gravada por acaso pela webcam de seu computador (o vídeo foi visto mais de 70 mil vezes no You Tube) e testemunhada por sua namorada, Jenna. Barrett permaneceu preso por mais de duas semanas sem direito a fiança e sem acusação. Ele está hoje sob custódia no Centro de Detenção Federal de Mansfield, no Texas.

A carta

No final de setembro, um correspondente do hacker divulgou a primeira – e, até o momento, única – comunicação pública de Barrett Brown desde a prisão.

Jenna, namorada do ativista, confirmou via Twitter que a carta é verdadeira e foi enviada a um amigo de confiança (aparentemente, a pessoa que mantém a conta @FreeBarrett_ no Twitter).

O jornalista passou a maior parte da carta negando seu status de “porta-voz oficial do Anonymous”, imposto pela mídia, e destacou nomes de jornalistas (classificados como amigos ou inimigos), quem disse o que sobre ele e em quais publicações. Além disso, Brown denunciou os maus tratos que sofreu no Centro de Justiça Lew Sterrett, para onde foi levado antes de ser transferido para a prisão de Mansfield.

Maus tratos na prisão

Na carta, Brown conta que as “costelas esmagadas” na hora da prisão estavam ruins o suficiente para que os outros presos ficassem preocupados com uma possível hemorragia interna, e que um até se ofereceu para contatar a mídia em favor do ativista, porque pensou que ele pudesse estar morrendo.

Na denúncia, Bown afirma que os funcionários do Centro de Justiça Lew Sterrett negaram-lhe a atenção médica, comida e o Suboxone, medicamento que está usando para a retirada da heroína, jogando-o em desintoxicação involuntária sem supervisão médica.

Os maus tratos que Brown descreve condizem com as críticas publicadas contra o Centro de Justiça Lew Sterrett na internet: “As 20 horas que passei nesta instalação poderiam ser classificadas como as 20 piores horas da minha vida. Era como algo saído de um filme de terror”, escreveu Michael H.

“Nenhum dos tratamentos que recebi no Lew Lew Sterrett tinha a ver com quem eu sou ou com o que eu sou acusado de. Simplesmente são o resultado natural da mentalidade desumana e degenerada do ‘sistema de correção’ do Texas, algo que eu descrevi pela primeira vez num artigo para o Towards Freedom, em 2005″, escreveu Brown.

O motivo da prisão

Brown alega que estava no meio de um plano de meses de duração para expor os informantes do FBI e que esse é o motivo de sua prisão.

“Mas por que eu estou preso? Eu gostaria de lhe dizer. Mas a acusação não gostaria disso. Eu e todos os outros na sala do tribunal fomos obrigados a nos abster de discutir a denúncia, o depoimento e o mandado de prisão, os quais estão selados a pedido do autor, um agente especial do FBI de quem eu não devo citar o nome”.

E continua… “Francamente, não culpo este agente especial por solicitar que o documento seja selado. Se eu tivesse escrito algo de tão baixa qualidade e que se demonstrasse mentiroso, gostaria de queimá-lo e pedir perdão para cada divindade inventada pelo homem […]”.

Momento de introspecção na prisão

De acordo com @FreeBarrett_, Brown começou um clube do livro e está jogando muito xadrez para passar o tempo. Aparentemente, ele tem tempo de sobra para introspecção.

“Estou humilhado por não ter sido capaz de proteger minha própria mãe do FBI e de impedir que minha namorada assistisse homens fortemente armados pisando na minha coluna enquanto eu gritava de dor”.

 Fotografia de trecho da carta de Barret Brown, em que ele pede que cuidem de sua namorada, Jenna.

“Mas isso não muda o fato de que eles são o resultado do meu próprio comportamento, dos meus próprios erros de cálculo, das minhas próprias escolhas”, conclui Brown, e finaliza: “Tendo dito isso, eu me arrependo de nada.”

A acusação

Na primeira semana de outubro de 2012, ele foi finalmente indiciado por três acusações: pratica de ameaças na internet, conspiração para disponibilizar ao público informações pessoais restritas de um funcionário dos Estados Unidos e retaliação contra um agente federal.

Veja o documento de acusação: http://pt.scribd.com/doc/109025315/Barrett-Brown-Indictment

A acusação inclui vídeos publicados por Brown na internet e transcrições de vários tweets postados por ele no início de setembro, ameaçando vazar informações pessoais sobre o agente Robert Smith, do FBI, a menos que o FBI devolvesse um laptop e outros bens que tinham sido confiscados de Brown.

O advogado de Barrett entrou com uma alegação de inocência.

Sobre Barrett Brown

Jornalista e ativista americano, Barrett Brown (31) pesquisa temas como ameaças aos direitos humanos, transparência cívica, segurança cibernética e privacidade individual.

Brown ficou conhecido também por sua irreverência e pelo uso de sátira, humor e exagero. Características que se pode notar, por exemplo, neste trecho da carta: “Se eu tivesse escrito algo de tão baixa qualidade e que se demonstrasse mentiroso, gostaria de queimá-lo e pedir perdão para cada divindade inventada pelo homem […]”.

Tem sido representado erroneamente na mídia como porta-voz do coletivo hackativista Anonymous. Já teve seu trabalho publicado em canais como The Guardian, Vanity Fair, The Huffington Post, BusinessWeek, Skeptic, Skeptical Inquirer, Al Jazeera English, New York Press, American Atheist, McSweeney e 2600 Magazine. E apareceu como convidado em importantes emissoras como MSNBC, Fox News e Russia Today.

Participação do público: cartas e doações

“Nesse momento crítico, um proeminente ativista da internet enfrenta uma batalha jurídica extremamente difícil, com um futuro incerto, e ele precisa da nossa ajuda e apoio inabalável.” Free Barrett Brown

Amigos e ativistas têm encorajado o público a escrever para Brown na prisão, para aumentar sua autoestima e mantê-lo confiante. “Eu garanto uma resposta a qualquer um que me escrever, se você envie a carta num envelope selado e auto-endereçado. Acredito que o correio me entregará apenas cartas com endereço de retorno, embora eu não tenha certeza”, disse Brown na carta.

Além disso, é possível fazer doações para a causa de Brown. O portal Free Barrett Brown convida simpatizantes de Barrett Brown a doar dinheiro para sua defesa: “Sua contribuição tem importância em uma campanha mais ampla de liberdade de expressão e transparência, tanto na internet como em todo o mundo”.

Mais sobre o caso Brown

fonte:
The Daily Dot
Free Barrett Brown

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